domingo, 13 de janeiro de 2019

A FENOMENOLOGIA E A INTENCIONALIDADE DA CONSCIÊNCIA EM HUSSERL E SARTRE



Como entender a fenomenologia e qual sua relação com a intencionalidade em Husserl e Sartre? É na busca dessa resposta que iniciamos a nossa dissertação tendo em vista que ambos os filósofos têm perspectivas diferentes, porém correlacionadas entre si.
Significar a fenomenologia em Husserl é entender os modos de aparecer e ao mesmo tempo do manifestar-se da essência das coisas à consciência. A essência não é adquirida por meio da abstração empírica como sustentam os empiristas, mas sim por meio da intuição da essência, que Husserl chamará de intuição eidética. Essa intuição é determinada pela maneira de aparecer (ou aparição) dos fenômenos à consciência.
Husserl fundamenta o seu pensamento a partir do conceito de consciência como algo que é caracterizado, necessariamente, por uma intencionalidade. A consciência para o fenomenólogo é um fluxo intencional que se dirige ao objeto intencionado e existente. Não se pode ter consciência do nada, como se o nada pudesse ser visado. Nesse sentido toda consciência é intencional, isto é, toda consciência é consciência de alguma coisa, ter consciência é noese, e noema é o objeto do qual se tem consciência. A consciência não pode ser reduzida às pretensões empíricas, uma vez que nela, não se toca, nem se pode tomá-la para si (à mão) como se fosse um objeto concreto. A intencionalidade como o elemento essencial da consciência é um visar a ser, um estar aberto a ser... É transitoriedade entre sujeito e objeto intencionado.
Talvez, o ponto chave da fenomenologia em Husserl é que, toda intencionalidade visa o fenômeno, que é a aparição das coisas e não, aparência. Para Husserl há diferença entre aparição e aparência. Entendemos a primeira como algo que remete à essência da coisa em si. Já a última, numa linguagem kantiana, podemos entendê-la como uma ilusão, algo que está fechado, o oposto de consciência, por fim, é o que se manifesta. Porém, para Husserl a aparência não deve ser entendida como contraposta à coisa em si. Pois, toda intuição que apresenta alguma coisa deverá ser fonte de conhecimento e, todo objeto que se apresenta a nós como intuição deverá ser compreendido da forma como se apresenta.
Para a fenomenologia há diferença entre “conhecer o aparecer do objeto” e “conhecer o objeto que aparece”. Se conhecermos o que aparece do objeto é bem provável que viveremos o aparecer do objeto que aparece. Esse conhecimento do aparecer diz respeito a um conhecimento pautado em crença, senso comum, ou persuasão.
Husserl pensava criar uma filosofia fenomenológica rigorosa que suspendesse tudo aquilo referente às doutrinas filosóficas nas discussões metafísicas, e posteriormente, suspender, sobretudo, as crenças, as verdades das ciências e aquilo que afirmamos na vida cotidiana. É nisso que resulta a epoché, que significa suspensão de juízos sobre tudo o que nos diz as doutrinas filosóficas e as nossas convicções. O objetivo da epoché é de atingir uma evidência e algo objetivo. Para o fenomenólogo em questão, nada resiste à suspensão, exceto a consciência, portanto, esta é algo evidente, é aquilo que constitui o mundo e a essência da existência das coisas.
Além de Husserl, também Heidegger e Sartre beneficiaram-se da fenomenologia, embora de formas muito diferentes entre si. Os dois últimos fundaram uma nova forma de pensar o fenômeno se é que podemos considerá-los de fenomenólogos. O certo é que as diferenças conceituais entre o trio parecem ser algo inovador. Pois, enquanto Husserl pensava na consciência como algo que intencionava um fenômeno, ou como pura transitoriedade entre o sujeito e o objeto, Heidegger a via como pura ilusão metafísica. Para este, o que existe é o Dasein e não a consciência. O termo alemão tem conotação existencial do ser e, significa, literalmente, o “aí do ser”.
O certo é que no Dasein já não há intencionalidade como vimos em Husserl, mas sim, uma preocupação enquanto conceito chave que remete á afetividade do ser. O ser para Heidegger é um existente preocupado que, enquanto possibilidade, foge de toda categoria da linguagem. Ele está aquém da capacidade ôntica e empírica (afeto, desejo, conhecimento, linguagem). Ele se dá em três momentos: ser no mundo, ser com os outros e ser para a morte.
O primeiro conceito remete ao sentido de existência, ele é puramente existir, e por isso, é projeto que transforma as coisas no mundo. O segundo conceito é aquele que não é capaz de existir temporalmente sem outros e sem os cuidados com os outros. Aqui parece claro o ser que se preocupa com a existência do outro e com a possibilidade da liberdade de assumir sua própria liberdade. O terceiro e último conceito é o ser para a morte, aqui há a realização do ser. A morte não é, senão, impossibilidade permanente da existência, ela é a possibilidade de que todas as demais possibilidades se tornam impossíveis. Dessa forma, a morte é o nada, é o sentido autêntico da existência.
É nesse sentido, do ser para a morte, que é possível apreender o ser como aquele da angústia diante da morte. A angústia é uma experiência reveladora do nada que põe o ser diante existência anônima. Por essa razão, o Dasein revela o nada da existência.
Sartre por sua vez, parece mais próximo de Husserl do que Heidegger, uma vez que ambos compartilham de forma semelhante a respeito do conceito de consciência. Para Sartre a consciência é consciência de qualquer coisa, ela é um nada que intenciona o ser. Esta se presentifica apenas no humano, este é indeterminado ontologicamente, além disso, é pura existência, e, por assim ser, é o nada. Esta categoria, nada, é livre e indeterminada, é ela que condena o homem a viver totalmente livre. Para o fenomenólogo o ser humano está condenado à liberdade, esta por sua vez, é pura possibilidade.
Apesar de Sartre dividir o conceito de Ser e de humano, ele afirma que o homem é consciência do ser. O ser é entendido como o Em si, as características destes são: isento de consciência, de possibilidade, de existência e de liberdade. Já o humano se caracteriza como o oposto do ser, suas principais características se dão pelo fato de possuir consciência aberta à qualquer coisa, possibilidade, liberdade, existência, e por ser indeterminado. O de ser indeterminado é condição para a existência de todas as demais características.


REFERÊNCIAS CONSULTADAS

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario.  História da filosofia: de Nietzsche à escola de Frankfurt. Vol. VI. São Paulo: Paulus, 2006.

A construção deste trabalho baseia-se no texto de Jean-Paul Sartre, intitulado: “Uma ideia fundamental da fenomenologia de Husserl: a intencionalidade”.

Um comentário:

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