A
HIERARQUIA DO SABER FILOSÓFICO – POLÍTICO EM PLATÃO
Q |
uando dizemos que a filosofia nasceu
na Grécia, ao mesmo tempo consideramos que ela teve uma forte ligação com o
mito, uma vez que entre os séculos VII a IV a. C. o pensamento mítico era
imprescindível para explicar a origem das coisas.
Ora, como que o mito e a filosofia
tiveram uma forte ligação se ambos têm duas concepções diferentes do mundo? A
concepção que se tem hoje sobre o mito é muito diferente da concepção que se
tinha na época da Grécia Antiga. Quando falamos em ligação do mito com a
filosofia não queremos dizer que o conceito de ambas as palavras são
semelhantes, mas que o mito é fonte da filosofia. A mitologia tentava explicar,
ou mesmo, responder à origem das coisas, a vida, a morte, a origem do mal e a
relação do homem com a natureza e com o mundo.
A filosofia surgiu a partir da
superação do mito, sua função era problematizar o porquê da existência das
coisas na sua totalidade, ela nasceu a partir de uma necessidade de uma nova
ordem de pensamento. Como a curiosidade maior da filosofia é buscar e entender
explicações da origem das coisas, ela exige uma coerência lógica e racional e,
não admite fantasias nem contradições. Nesse caso, a razão é o objeto
primordial da filosofia, por isso que o mito foi perdendo sua autoridade para o
pensamento racional que exige metodologia (método lógico) e um rigor diferente
para a explicação da realidade puramente racional.
A Filosofia Antiga pode ser chamada
de filosofia clássica ou grega, pois foi desenvolvida na Grécia antiga pelos
gregos a partir do momento em que eles começaram a se preocupar com as
condições sociopolíticas, econômicas, culturais e espirituais na polis (Cidade
Estado). A arte grega, as fortes influências da, Ilíada de Homero e da Odisseia
de Hesíodo também expõem fortes explicações sobre a origem do Universo
(cosmologia) e do nascimento dos deuses, (teogonia) são temas que se relacionam
com o mito. Segundo os gregos até o século IV a. C., tudo que existia no mundo
era explicado por meio de intervenções divinas. Para os gregos a liberdade de
expressão, a contemplação da verdade, as reflexões e o desejo de conhecer o
puro conhecimento que estava fora da realidade mitológica ocasionou o surgimento
da própria filosofia que antes era compreendida como interpretações mitológicas.
As
fases e períodos da história da filosofia antiga
Entre
o século VII a. C ao VI d. C. distingue-se alguns períodos: o período
naturalista ou pré-socrático, caracterizado pelo problema da arché da physis (o princípio da natureza) que quer dizer a origem de todas
as coisas, esse problema foi introduzido principalmente por três “naturalistas”
ou filósofos físicos. O primeiro foi Tales de Mileto (século VII até primeira
metade do VI a. C.) que chegou a conclusão de que o princípio de tudo é a água,
por ocasião de que ela está em todos os locais em que há vida.
O segundo foi Anaximandro de Mileto
(século VII até segunda metade do VI a. C.) discípulo de Tales, ele concluiu
que o princípio de tudo não é nenhum elemento natural, mas, o apeíron, que é aquilo não identificável
com os elementos naturais, além de ser infinito tanto em conceito, quanto em qualidade
e quantidade.
E o terceiro naturalista,
Anaxímenes de Mileto, (século VI a. C.) discípulo de Anaximandro, discorda dos
elementos anteriores e propõe que o elemento gerador de todas as coisas (arché)
é o ar infinito que está em movimento constante, o ar entra em processo de
condensação em água e terra, e em fogo pela rarefação.
Período
humanista, parcialmente, caracterizado pela decadência da filosofia
naturalista, nele está os sofistas, homens itinerantes da época que possuíam
bons argumentos aos problemas que a respeito do homem na polis e sua posição política na sociedade. Esse período constitui o
início da filosofia socrática, na qual Sócrates, pela primeira vez procura
determinar a essência do homem, pois em si está sua alma e na alma a sabedoria.
É
um momento coincidente com o século IV a. C. que segue marca a presença de
Platão e Aristóteles, ambos se preocupam com a felicidade do homem inserido na
pólis (cidade grega). Platão descobre
a existência de dois mundos o suprassensível e sensível, já Aristóteles, trata
de outros problemas filosóficos, dois deles são o da substância e o do Ser em
ato e potência.
Período
pós – socrático, marcou o surgimento das escolas helenísticas: o cinismo,
epicurismo, estoicismo, ceticismo e ecletismo que prepararam a civilização
medieval e o modelo do pensamento no Ocidente. Essas escolas começaram a surgir
em virtude do uso da razão. Mas surge o cristianismo, introduzido e
caracterizado pelo pensamento neoplatônico, registra-se então uma mudança
radical de estilo de vida que marcou a história dos gregos e romanos pagãos,
pois não mais seria possível a fé sem um modelo cristão, fato que corresponde
ao início do período medieval e ao mesmo tempo a expansão do cristianismo.
AOS ESTUDANTES
Nesse
capítulo que se refere à Filosofia Antiga o texto didático, nos expressa uma
preocupação com textos que valorizam o conhecimento filosófico e científico e
com a dimensão histórica das disciplinas de maneira contextualizadas
cronologicamente à uma linguagem altamente acessível ao aluno de Ensino Médio. O
texto não quer apresentar apenas o conteúdo, mas também questionar para um
aprendizado eficiente. De fato, é um livro diferente, pois procura interagir o
aluno em diferentes perspectivas de análise.
As
atividades propostas são inclusas à leitura de textos, à atividades em grupos,
seminários, relatórios de filmes e do
que foi discutido na sala de aula, participação na aula, resumo de textos e
atividades do livro em geral. Serão formados grupos de debates para melhor
entendimento dos conceitos da tradição filosófica, interpretações de textos e
vídeos, de modo, a buscar modos de pensar filosófico, crítico e criativo para
facilitar discussões dos problemas da vida em cada período proposto. Os alunos
serão avaliados a partir de participação na sala de aula, pelas atividades do
livro, resumos e por meio de provas descritivas.
Uma vida sem ser
questionada, não vale a pena ser vivida. PLATÃO
Bons estudos.
O
SABER COMO MOTIVO PARA A MORTE DE SÓCRATES
Para início de
estudo filosófico, a filosofia de Platão é fruto de um acontecimento
escandaloso em Atenas, a morte de Sócrates. Toda obra deste filósofo político é
posterior a este episódio tão marcante em que os atenienses se comprometeram. O
próprio Platão é um dos mais célebres dos socráticos, pois após a morte do
mestre Sócrates, procurou perpetuar a sua memória na prática ou mesmo na
escrita. Tanto é verdade que, os textos que a ele precedem, resumem-se a nós em
pouquíssimos argumentos.
O
verdadeiro problema que designou a morte de Sócrates é composto de uma série de
fatores. Suas perguntas se referiam a ideias, valores, práticas e
comportamentos que os atenienses julgavam certos e verdadeiros em si mesmos e
por si mesmos, além disso, ele fazia pensar sobre as questões políticas na polis.
“Sócrates tornara-se um perigo, pois fazia a juventude pensar. Por isso eles o
acusaram de desrespeitar os deuses, corromper os jovens e violar as Leis”.
(CHAUÍ, Marilena, 1995, p. 38) Ele como bom sábio, não esperava que os jovens
atenienses pudessem não acreditar em suas verdades explanadas em praças
públicas perante grandes Assembleias.
Não foi por acaso, que Sócrates ignorou a teimosia dos
atenienses que também costumavam se preocupar consigo mesmo e acreditar em
aparências que são coisas enriquecedoras do corpo e não da alma, além de,
cultuarem deuses estranhos. Sócrates por ser tão sábio e obviamente verdadeiro,
sua sabedoria foi motivo de inveja para muitos atenienses que condenaram – o a
morte por envenenamento, de certo modo obrigaram-no a ingerir uma taça de
cicuta.
As palavras deste sábio, vítima de injustiça, “não sei
atenienses, que exerceram meus acusadores em vosso espírito; (...) Verdade,
porém, a bem dizer não proferiram nenhuma”. (PLATÃO. 1996, p. 29); expressam
certa ingenuidade por parte dos acusadores e irrelevante motivo que justifica
sua morte. A seção seguinte procede do acontecido (a morte de Sócrates) que
marcou a história de Platão e, vislumbra a questão política responsável em se
preocupar com os filósofos do período Socrático na pólis (cidade grega).
SABER
GOVERNAR E FALAR PODE SOLUCIONAR OS PROBLEMAS POLÍTICOS
Sócrates quando acusado injustamente pelos Atenienses,
oportunizou a abertura da filosofia platônica. É claro que para Platão, a morte
de Sócrates foi um fato relutante à polis. Mesmo após o ocorrido a
regressividade gradativa no poder político da cidade não cessava, o estímulo
que o cidadão possuía para conhecer a essência das coisas e viver a plena
justiça também estava em decadência, esse fato levou Platão a expor sua forma
de pensar sobre o problema da política da cidade, e sugerir uma nova forma de
governo que visasse o sistema político como um todo, de modo especial a
educação, pois os cidadãos atenienses estavam “cegos” e numa realidade anormal.
Para ele, a atitude dos que estavam no governo (poder) regredia o crescimento
político e econômico uma vez que deveriam tomar as atitudes em benefício de
toda a cidade e não de alimentar seus próprios interesses individuais. Quem
partilhava desse modo de viver (a favor da instabilidade política) não tinha o
real conhecimento e inteligível, eram “cegos”, logo, estavam “acorrentados” no
fundo da caverna.
Hipoteticamente, umas das soluções que poderia conformar
Atenas dos conflitos políticos e deixá-la feliz, talvez, já não fosse o logos
uma vez que as palavras do sábio Sócrates aos atenienses parecessem ser
triviais perante o ponto de vista sofístico. O logos, é um termo grego que quer
dizer a palavra, regra, princípio ou lei, passou a ser instrumento de defesa
nos argumentos dos sofistas, conferencistas itinerantes e originários da parte
da Sicília que atraiam numerosos ouvintes, sobretudo em Atenas onde os
habitantes eram os amantes da retórica. (PLATÃO. Idem, 1985, p. 13).
“numa democracia a
palavra é soberana; convém, portanto, aprender a arte de falar a fim de levar
as opiniões para a Assembleia, ou de defender diante dos tribunais”. (MANON,
Simone. 1922, p. 2).
SABER
É UMA TAREFA POLÍTICA
Filosoficamente, aos gregos, de modo especial para
Platão, a arte da palavra era caracterizada como soberana apenas quando bem
utilizada. Em Atenas, o logos tinha seu lugar central, pois quem ambicionava o
poder na Assembleia devia, sem dúvida, antes de qualquer coisa, ser um bom
orador. Por isso, para ser ateniense e simultaneamente um bom governo era
preciso saber falar como um verdadeiro Górgias. (PLATÃO. 2011).
A linguagem, bem como, o logos, era um dom dos deuses,
nesse caso, quem fazia seu uso tinha que esse dom recebido fazendo dele um uso
adequado. Em Platão, a linguagem reflete aquilo que as coisas são, uma ação
injusta nunca deve ser louvada, da mesma forma, o verdadeiro nunca deve ser
confundido pelo falso e, evidentemente, a aparência nunca leva vantagem sobre o
ser. Simone Manon (op. cit. p. 9) evidencia com relação aos gregos que, “se o
logos é um dom divino, falar é dizer o ser das coisas, uma ação dita corajosa
merecia ser louvada assim como uma ação dita virtuosa”. Portanto, já que o logos se preocupa em dizer
as coisas assim como elas são em sua essência, certamente, os filósofos e os
sofistas teriam razão confiar nele.
Não é apenas por meio da técnica de saber governar, mas
também, por meio do logos que a justiça em Platão é visada como um bem maior. A
essa razão, pode-se dizer que quando o cidadão expressa a verdade do ser, ele
está sendo justo. Na maioria dos diálogos platônicos Sócrates não quer apenas
saber objetivamente o significado dessa virtude (a justiça), mas também,
vivê-la, ainda que, viver essa virtude para aqueles que não a conhece significa
não ser feliz. Já dizia ele próprio que: “quem puder definir a justiça como tal
será necessariamente justo; porque se a justiça é bela como se ouve dizer,
ninguém cairá na injustiça”. (PLATÃO. Idem, 2007, p. 233).
OBSERVAÇÃO
como esse blog é mais de caráter pedagógico, serão postados a princípio e em alguns casos juntamente com os textos, as atividades avaliativas, embora elas sejam opcionais para a avaliação do aluno, também é um modo de avaliar o próprio leitor do blog.
A forma de avaliação será tanto individual, coletiva, oral e escrita. Os instrumentos de avaliação comportam , por um
lado, a observação sistemática durante as aulas sobre questionamentos feitos
pelos alunos, como são feitas as abordagens conceituais, registros de debates,
de entrevistas, pesquisas, vídeos.
Os critérios de avaliação precisam estar em busca de uma
aprendizagem significativa levando o aluno a compreensão de como as
Ciências funcionam, sua relação com a tecnologia e a sociedade atual e sua
implicação ao longo da história.Vincular os conceitos científicos ao mundo natural
e cultural dos alunos possibilitando a participação em opiniões e tomadas de
decisões em busca de qualidade de vida e equilíbrio ambiental.
ATIVIDADES
PARA DEBATE
1. Reúnam-se
em pequenos grupos e responda as questões abaixo. Essas questões têm como
função resgatar seu nível de compreensão de textos filosóficos e mostrar como
se faz uma discussão em grupo numa perspectiva filosófica.
- A partir da leitura de seu grupo discuta com seus colegas, qual a definição da Filosofia Antiga e como ela surgiu.
- Explique com suas palavras os acontecimentos responsáveis pelo surgimento da Filosofia Antiga.
- No período pré-socrático existiram os filósofos naturalistas são assim chamados por que explicaram a arché da physis (princípio tudo) por meio de uma das teorias dos quatro elementos, (terra, ar, fogo e água) ou pelo apeíron que não se reduz a um único elemento natural. Expliquem quais foram os filósofos naturalistas e qual a forma de pensamento de cada um a respeito da arché da physis.
- Segundo a leitura, quais os períodos da Filosofia Antiga?
- No período socrático, ou humanista, segundo o texto, existiram três grandes pensadores que são honrados no campo da Filosofia Antiga pelos filósofos de hoje, quais?
BIBLIOGRAFIA
CASERTANO, Giovanni. Uma introdução à República de Platão.
trad. Maria da Graça Gomes de Pina. 1. ed. São Paulo: Paulus, 2011.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 4. ed. São Paulo, Ática, 1995
GOMES, Morgana. Platão. 1.ed. São Paulo, Minuano, [entre 1996 e 2008].
JASPERS, Karl. Introdução ao pensamento filosófico. Trad.Leonidas Hegenberg e
Octanny S. da Mota. 9. ed. São Paulo: Cultrix, 1965.
MANON, Simone. Platão.
Trad. Flávia c. de Souza nascimento. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes,
1922.
PLATÃO. Sócrates: os pensadores. Trad. Jaime Bruna; Líbero R. de Andrade;
Gilda M. R. Strazynski. 1. ed. São Paulo: Nova Cultura, 1996.
PLATÃO. A República. Trad. Ciro Mioranza. 2. ed. São Pauo: Escala, 2007.
PLATÃO. Górgias de Platão. Trad. Daniel Rossi Nunes Lopes. 1. ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.
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